Como posso ser poeta se o tempo
Necessário ao exercício de mi'a arte
Não o tenho - faz-se sempre partilhado
C'os labores que a mim são exigidos?
Quando a musa bela chega a visitar-me,
Inspirando-me o mais perfeito verso,
Cesso a escrita e com ela cessa o engenho.
Magoada, leva a minha inspiração.
Os poetas de outrora (penso eu),
Que as mais belas poesias redigiram,
Deixariam porventura seus ofícios
E à cotidiana ação se entregariam?
Posso eu submeter da arte as Musas
Ao intervalo das mi'as muitas ações,
Obrigando-as a servirem-me apenas
No cansaço, quando cessa-me o labor?
Tantas vezes companheiras se fizeram,
Junto a mim permanecendo todo o dia,
Ao ouvido me soprando as palavras
Tão perfeitas, que unidas eram versos.
Sem poder eternizá-las no papel -
Suave brisa - dissiparam-se no ar
P'ra - quem sabe? - outro poeta as ouvirem
E colher o que eu não pude atentar.
Dedicar-se unicamente à sua arte
Deveria o que tem alma de artista,
Para o mundo enriquecer com a Beleza,
Que é centelha da divina Criação.
E enquanto o poeta - e todo artista -
É envolvido pelo turbilhão do mundo,
Toda a humanidade aos poucos se empobrece
Pelas obras que a arte não criou.
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Título : Penumbra Solidão
EAN : 9789895123032
Editorial : Chiado Books
Fecha de publicación
: 1/6/15
Formato : ePub
Tamaño del archivo : 1.31 mb
Protección : Aucune
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