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O pintor surrealista Dalí dedicou dois grandes livros, de vinho e comida, para sua mulher Gala, ciente de que "a mandíbula é a melhor forma para conhecer o conhecimento filosófico".
Escavações no château-refúgio de Luís XIV encontraram históricos coprólitos (paleopoop), reveladores da pompa dos jantares da corte, mas também das doenças que afetavam a nobreza.
A invenção do carpaccio é atribuída a Giuseppe Cipriani, do Harry's Bar de Veneza. Carne crua, rica em ferro, seria remédio para a anemia de uma cliente. Foi batizado em honra do pintor Vittore Carpaccio.
Amor em tempos de murais. Frida Kahlo preparava comidas mexicanas para o comunista Diego Rivera, quando este pintava contundentes cenas em território imperialista: a Ford de Detroit.
O imperador Napoleão Bonaparte fazia refeições frugais, em 15 minutos, mas entendia a importância da mesa requintada para a diplomacia, entregue para o garfo número um: Talleyrand.
O chef catalão Ferran Adriá fez maravilhas na cozinha de invenção de seu restaurante na Costa Brava. E seus achados de "desconstrução" ainda hoje influenciam a alta gastronomia.
Deméter, a deusa grega da terra cultivada, da fertilidade dos campos, espera sempre que a filha Perséfone suba do Hades para trabalhar com os grãos essenciais. O trigo do sagrado pão encabeça a lista.
Personagem de Andrea Camileri, inspetor Salvo Montalbano é campanilista, adepto (avant la lettre) do movimento slowfood. Como siciliano, mergulha numa Pasta alla Norma.
A refrescante granita de amêndoas de Noto, na Sicília, é tão barroca e tradicional quanto a cidade. Em Piave, província de Treviso, lagostins estão no centro de uma secular Última Ceia renascentista.
Graças à decifração de inscrições cuneiformes em tabletes de argila, encontrados entre os rios Tigre e Eufrates, é possível hoje reproduzir algumas receitas mesopotâmicas: carne cozida com muito alho.
Lucullus, general-gastrônomo que garantiu luxo a banquetes romanos, é também nome de acelga e sinônimo de fartura. No Monte Testaccio, ânforas e seus cacos revelam império banahado em azeite.
No cardápio ateniense, sempre há café grego (não turco) e ouzo. E quando se fala em vinho, cada país destila seus ditados, quase sempre na base de In vino veritas, "no vinho, a verdade".
Despedida do verão na Suécia é celebrado com lagostins e akvavit. Nas ilhas Cayman, a Strombus gigas é a concha-rainha que já foi provisão de marinheiros capitaneados por Cristovão Colombo.
Cedric Dickens, neto do escritor Charles Dickens, classifica os bebedores dos romances do avô: daqueles capazes de beber um Tâmisa inteiro aos que não dispensam um grog para celebrar a amizade.
O pintor inglês Benjamin Haydon convidou para jantar os poetas Wordsworth, Byron e Keats. Regada a claret, a refeição daquela tarde de 1817 teve no cardápio ainda conversas sobre Waterloo e Napoleão.
Com um mar de molho de peixe fermentado, o gourmand Apicius empresta seu nome para receitas romanas reunidas no pioneiro De Re Coquinaria. No Monte Érice siciliano, marzipãs nos levam aos céus.
O escritor Isaías Pessotti faz seus personagens discutirem pesquisa e ciência diante de pratos da Lombardia e vinhos italianos. Faisão alabastro é apenas uma receita que desconcerta os acadêmicos.
Preciosidades do Norte da África e Crescente Fértil, as tâmaras levam ao mundo mensagens de doçura. Na Europa, tradicionais castanhas assadas trazem eficiente conforto ao estômago.
Não havia anchovas. O cozinheiro do rei tratou de recriá-las com os nabos e sementes de papoula. Já a folha oblonga da planta Peixinho, empanada, até parece um lambari, mas não engana ninguém.
As içás do menu indígena, comida "sã", foi parar em pratos de restaurante gourmet. Alex Atala conheceu as formigas da Amazônia. Monteiro Lobato escreveu: são como caviar.
Uma das bebidas preferidas de Ernest Hemingway era o mojito, do Floridita, na Cuba onde morou. Mas foi com Mâcon da Borgonha que embalou uma viagem pela França com Scott Fitzgerald.
Archestratus de Gela escreveu versos como se fossem dicas dos melhores ingredientes de seu tempo (350 a.C.). Por que não as enguias de Messina? E o que comiam os heróis de Homero?
O figo-da-índia, que brota do cacto Opuntia, foi domesticado no México e foi parar até na Grécia. Chef François Vatel apresentou o "creme da casa" ao rei sol Luís XIV. Nascia o chantilly.
A história da sedução à mesa nunca mais foi a mesma depois dos banquetes de Cleópatra para Marco Antônio. Nos "churrascos" pré-históricos, o auroque antecipou o prazer pelo ossobuco.
Lingonberries, preparadas como geleias, acompanham as indefectíveis almondeguinhas suecas. Bem maiores, os abacates ganham verbo além México: to guac, em inglês, é fazer guacamole.
Émile Zola trata em O Ventre de Paris do dia a dia do ruidoso Les Halles Centrales, com seus personagens, peixes e queijos, todos fortes. Assim compôs o retrato da burguesia gorda da sua época.
O cauim, fermentado de mandioca dos nossos indígenas, mereceu comentários de viajantes e autores dos séculos XVI e XVII. Michel de Montaigne chegou a comparar o cauim ao claret francês.
O poeta Apollinaire preparou lagosta para Picasso, na cozinha de seu pequeno apartamento, época em que Paris era uma festa e acolhia artistas "exilados" de todo mundo. No La Tour D'Argent, em Paris, o...
O chowder de mariscos foi o prato de resistência servido aos marinheiros que Melville dissecou no seu livro Moby Dick. Um mar de vinho Marsala engoliu Woodhouse no seu desembarque na Sicília.
A chipa paraguaia é um alimento de conforto no país, assim como o tereré é a bebida da confraternização, a erva com água bem gelada que mata a sede e é também santo remédio.
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